Tanto o frio, como o calor são métodos simples, seguros e bastante acessíveis para aliviar a dor. Fique a saber em que situações devemos utilizar uma ou outra.
Frio
Efeitos do frio
O gelo, bem como outras formas de crioterapia, é um tratamento bastante comum, sendo principalmente usado nas fases iniciais do tratamento das lesões agudas (lesões recentes). O frio reduz o edema (inchaço formado logo após a lesão) através da vasoconstrição e também atua eficazmente no alívio da dor. Este alívio resulta da diminuição da velocidade de condução nervosa, que faz com que percamos momentaneamente a sensibilidade na zona arrefecida[1]. A utilização do frio para a redução da sensação de fadiga muscular é também comum entre os desportistas.
Será o gelo um bom anti-inflamatório?
Estudos em laboratório mostram que um arrefecimento dos tecidos entre os 5 a 15°C tem efeitos na redução do metabolismo celular o que leva a uma diminuição da inflamação. Contudo, a verdade, é que o frio mesmo feito de forma intensiva, apenas consegue diminuir a temperatura corporal entre os 21 e os 25°C, o que faz com que os efeitos do frio na inflamação sejam pouco prováveis[1]. O frio apenas consegue penetrar até 1 a 2cm abaixo da nossa pele, o que não é suficiente para causar grandes alterações, principalmente em lesões mais profundas ou localizadas em áreas mais cobertas por gordura. Outro factor a ter em conta, é que logo após da retirada do gelo, o processo de aquecimento do corpo ocorre bastante rápido e em alguns minutos a temperatura daquela zona do corpo regressa ao normal.
Gelo: Método fácil e simples de aliviar a dor
Apesar dos seus efeitos anti-inflamatórios não serem relevantes, a verdade é que o frio é um reconhecido analgésico, fazendo parte de todas as linhas orientadoras para tratamento das lesões agudas, sendo também bastante utilizado em situações de pós-operatório[1]. Com um simples saco congelado de ervilhas ou um saco de cubos de gelo, conseguem-se resultados valiosos no alívio da dor. A crioterapia (terapia pelo frio) é também utilizada sob a forma de compressas em gel, em spray, através de massagens com gelo, banhos de imersão ou mesmo através de câmaras de nitrogénio.
Como usar: Se usar uma compressa ou saco de gelo deve aplicar por 10 a 15 minutos, sendo que deve aguardar, pelo menos 30 minutos entre aplicações. O uso de gelo é mais eficaz que as compressas em gel, pois atinge temperaturas mais baixas e retém o frio por mais tempo.
Calor
Efeitos do calor
O calor, ou termoterapia, é usado sobretudo para o relaxamento muscular e alívio da dor. Este é tipicamente útil em casos de contraturas, dor cervical, dorsal ou lombar ou dor muscular associada ao sobre-uso (ex.: dor muscular após um treino no dia anterior). O calor é também útil em condições crónicas como a fibromialgia ou a artrose e ainda para outros tipos de dor como a dor menstrual. O calor deve sempre ser usado em condições não-inflamatórias, por isso se a lesão é recente, não deve utilizá-lo, pois há hipótese de haver um aumento da dor.
O calor superficial situado entre os 40 e os 45 °C leva a um aumento do fluxo sanguíneo nos tecidos aquecidos, sendo que este atinge até cerca de 1 cm de profundidade[2]. O calor pode ser aplicado de diferentes formas, entre as mais utilizadas estão as botijas de água quente ou as compressas quentes que podem ser facilmente aplicadas em casa.
Como usar?
Se utilizar uma compressa ou botija aplique-a na zona afectada, colocando várias camadas de toalhas entre estes e a sua pele. Coloque por pelo menos 20 minutos.
Gelo ou Calor…com qual se sente melhor?
Existem situações em que tanto um como o outro podem ser benéficos, ficando ao critério da pessoa, qual usar. Estudos indicam que tanto o gelo como o calor podem trazer alívio para casos de dor lombar[3]. A verdade é que para a maioria das pessoas o calor é mais confortável do que o gelo. Na fase sub-aguda da lesão (fase mais adiantada da lesão) são por vezes utilizados os banhos de contraste, método onde se alterna entre o frio e o calor.
Conclusão
Em termos gerais, o gelo deve ser utilizado em lesões traumáticas recentes e o calor é mais eficaz em dores não-inflamatórias. Como vimos, tanto o frio como o calor apenas penetram na pele cerca de 1 cm, ou seja, não provocam alterações de maior nas estruturas do corpo. Contudo, são sem dúvida uma mais-valia no alívio da dor a curto prazo, devendo, quando necessário, servir como adjunto de tratamentos mais efectivos, tal como é caso do exercício terapêutico. O frio e o calor são métodos de tratamento facilmente reproduzíveis em casa, por isso é raro fazê-los nas minhas sessões de fisioterapia. Contudo, faço sempre questão de recomendá-los quando necessário. Para o seu caso, resultará melhor o o gelo ou o calor? :)
Obrigada por lerem,
Sara Mendonça
Fisioterapeuta e Instrutora de Pilates na FisioAjuda - Especialistas na Coluna, Funchal
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Referências:
[1] B. Clarsen, «Chapter 17 - Treatment of sports injuries», em Brukner&Khan’s Clinical Sports Medicine, 5th Edition., vol. Volume 1, Mc Graw Hill Education, p. 248.
[2] J. Jo e S. H. Lee, «Heat therapy for primary dysmenorrhea: A systematic review and meta-analysis of its effects on pain relief and quality of life», Sci. Rep., vol. 8, Nov. 2018, doi: 10.1038/s41598-018-34303-z.
[3] S. D. French, M. Cameron, B. F. Walker, J. W. Reggars, e A. J. Esterman, «A Cochrane review of superficial heat or cold for low back pain», Spine, vol. 31, n. 9, pp. 998–1006, Abr. 2006, doi: 10.1097/01.brs.0000214881.10814.64.
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