A maior parte das pessoas tem a percepção que a hérnia discal é uma sentença para a vida, estando condenadas a uma vida limitada, com dor e de constante vigilância. Fique a conhecer alguns factos sobre esta condição que podem mudar um pouco a sua forma de pensar.
O que é uma hérnia discal?
A nossa coluna vertebral é composta por vértebras. Estas são pequenos ossos alinhados uns sobre os outros desde a base das costas à base do crânio. De modo a existir maior movimento na coluna existe, entre cada duas vértebras, um disco intervertebral. Os discos têm uma parte mais forte fibrosa externa chamada anel fibroso e uma parte mais macia interna chamada núcleo pulposo. É este núcleo pulposo que quando sai para fora do disco forma a hérnia discal.
Pode acontecer que a saliência causada pela saída de parte do núcleo do disco pressione ou cause irritação nas estruturas circundantes da coluna, causando dor. Quando a hérnia pressiona os nervos que saem da coluna pode causar sintomas como a dor irradiada pelos membros (ex.: a famosa dor ciática), diminuição de força e/ou alterações na sensibilidade como a sensação de formigueiro ou dormência.
O conhecimento acerca da dor lombar tem evoluído bastante nos últimos anos e mostro-lhe aqui 3 factos que muita gente desconhece sobre as hérnias discais.
1. A grande maioria das pessoas não necessita de ser operada;
Embora pareça um diagnóstico assustador, a verdade é que a grande maioria das pessoas com sintomas de hérnia discal acaba por recuperar sem necessidade de intervenção cirúrgica, sendo esta apenas necessária em casos mais graves de lesão nervosa ou em casos que não haja resultados satisfatórios com o tratamento não-cirúrgico(1).
2. A sua dor pode ou não estar relacionada com a hérnia discal;
Cerca de 85-90% dos casos de dor lombar é não-específica, ou seja, não se consegue identificar, com total certeza, a causa da dor (2,3). Mesmo que tenha uma hérnia discal, a sua dor pode não advir desta, já que ter uma hérnia é bastante comum mesmo na população sem dor (2). Apenas se pode aferir com mais certeza que a dor advém da hérnia discal quando existem sintomas de compressão da raiz nervosa, havendo a dor que irradia pelo membro ou alterações na sensibilidade/força no mesmo (3).
Como foi dito, as alterações na coluna, incluindo as hérnias discais, são muito comuns na população em geral, incluindo nas pessoas sem dor. Estudos, como o de Brinjikji et al. realizado em 2015, mostram isso mesmo. Veja o gráfico abaixo que mostra parte dos achados do referido estudo e veja que 30% dos jovens na casa dos 20 já apresentam hérnias discais, mesmo não tendo qualquer tipo de dor (4).
3. Na maior parte dos casos, os sintomas evoluem positivamente.
Embora possa haver bastante dor numa fase inicial, os sintomas relacionados à hérnia discal evoluem, na maior parte dos casos, de maneira favorável ao logo do tempo (1,3). Dados indicam que 66.66% das hérnias discais são reabsorvidas pelo organismo de forma espontânea. (5) Ou seja, 2 terços das hérnias discais desaparecem com o tempo. Mesmo que a hérnia não seja reabsorvida, na maior parte das vezes, a dor acaba por diminuir quando as estruturas na origem da dor ficam menos sensíveis ao movimento. Por isso, é extremamente importante, mesmo com alguma dor, continuar a mover-se e a fazer o seu dia-a-dia o mais próximo possível do habitual, para que gradualmente a sensibilidade da coluna acabe por regressar à normalidade.
Qual é o melhor tratamento?
A fisioterapia faz com que, a pouco e pouco, a coluna fique menos dolorosa ao movimento e às tarefas diárias, fazendo com que as limitações do dia-a-dia fiquem para trás. Tenha em atenção que tratamentos como acupunctura, manipulações, massagem, electroterapia, calor, podem diminuir temporariamente a dor, mas não alteram a evolução natural da dor lombar a longo prazo. Pelo contrário, o exercício apresenta excelentes resultados a médio-longo prazo. Por isso, peça sempre ao seu fisioterapeuta para realizar um programa de exercícios adequado a si que o ajude a recuperar mais rapidamente. Uma fisioterapia apenas baseada em tratamentos passivos como a terapia manual, calor e electroterapia e que não inclua nenhum tipo de plano de exercício não é certamente o mais recomendado.
Conclusão
A hérnia discal não é uma sentença para a vida. Esta condição faz parte de um processo natural do envelhecimento, podendo ou não estar na origem da sua dor lombar. Mesmo que a sua dor esteja relacionada com a sua hérnia discal, a grande maioria dos casos evolui de forma bastante positiva, sendo a fisioterapia baseada no aconselhamento e exercício o tratamento mais adequado para estes casos.
Obrigada por lerem,
Sara Mendonça
Fisioterapeuta e Instrutora de Pilates na FisioAjuda - Especialistas na Coluna, Funchal
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Morada: Rua Vale da Ajuda 96 - Funchal (ao lado da Farmácia da Ajuda)
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Referências:
1. Publishing HH. Babying your back may delay healing [Internet]. Harvard Health. [citado 7 de Novembro de 2019]. Disponível em: https://www.health.harvard.edu/pain/babying-your-back-may-delay-healing
2. Hartvigsen J, Hancock MJ, Kongsted A, Louw Q, Ferreira ML, Genevay S, et al. What low back pain is and why we need to pay attention. Lancet. 09 de 2018;391(10137):2356–67.
3. O’Sullivan P, Kountouris A, Press J, Reese M. Low back pain. Em: Brukner and Khan’s Clinical Sports Medicine. McGraw-Hill Education; 2016.
4. Brinjikji W, Luetmer PH, Comstock B, Bresnahan BW, Chen LE, Deyo RA, et al. Systematic literature review of imaging features of spinal degeneration in asymptomatic populations. AJNR Am J Neuroradiol. Abril de 2015;36(4):811–6.
5. Zhong M, Liu J-T, Jiang H, Mo W, Yu P-F, Li X-C, et al. Incidence of Spontaneous Resorption of Lumbar Disc Herniation: A Meta-Analysis. Pain Physician. Fevereiro de 2017;20(1):E45–52.
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